Nos Estados Unidos, saiba como esquiar mais e pagamendo menos

O Globo – 28/11/2021

Novo passe valoriza estações independentes, menos concorridas

Em algum momento do inverno de 2018, Doug Fish estava esquiando sozinho nas Rochosas quando engatou uma conversa no teleférico com um casal que tinha saído de Mineápolis de carro para passar as férias ali e estava se divertindo horrores. Mas isso não foi em um destino famoso como Jackson Hole, Vail ou Park City; eles estavam em um lugar muito menor, o Red Lodge Mountain, em Montana.

Fish, veterano do marketing de esportes de inverno, já vinha pensando em lançar um passe que pudesse ser utilizado em diversos resorts e competisse com as versões Epic e Ikon, mais salgadas, que estão mudando a cara do esqui há algumas temporadas. E achou o encontro muito esclarecedor.

— Foi um papo que me fez perceber que nem todas as pessoas esquiam 20, 30 dias por ano, o que não significa que sejam menos apaixonadas pelo esporte. Esse pessoal é a maioria silenciosa, que não tem nenhum passe que lhe sirva, e tem de gastar os tufos com a versão diária — disse ele em bate-papo por vídeo.

Almoçando com o gerente-geral do Red Lodge, fez então uma proposta: um passe novo, acessível, para um público como o casal que conhecera no teleférico.

Fish lançou seu Indy Pass em setembro de 2019, permitindo assim que, por apenas US$ 199, qualquer um adquirisse o direito de esquiar em um dos 34 resorts participantes — incluindo, sim, o Red Lodge. Ele conta com 80 estações nas montanhas que, fazendo jus ao nome do ingresso (“Indy”, de “independentes”), são estabelecimentos pequenos e médios, muitos inclusive administrados pelos próprios donos.

Há núcleos impressionantes nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, com o Michigan, por exemplo, abrigando seis Indy participantes nas montanhas, embora ainda não haja nenhum no Colorado. O preço também aumentou, mas não muito: o valor da pré-temporada 2021-22, válido até 30 de novembro, é de US$ 299 com dias de pico e de US$ 399 sem — bem mais baixo que o do Epic ou o do Ikon, que estão a mais de US$ 800.

Andy Brown, de 50 anos, do condado de Rockland, em Nova York, foi um dos primeiros a aderir à novidade, e admitiu que a economia foi um grande incentivo.

— Eu já conhecia alguns afiliados, como Catamount, e sabia que queria esquiar ali. Além disso, vou com meus filhos, e faz uma diferença enorme na hora de comprar o ingresso para várias pessoas — contou ele por telefone, referindo-se ao resort Berkshires.

Brown quase sempre faz excursões de um dia, visitando as estações que ficam a, no máximo, três horas de casa — e é exatamente o tipo de cliente que Fish tinha em mente quando criou o Indy:

— Nosso modelo é o esquiador que tira de dois a quatro dias e dorme em casa, saindo um fim de semana ou dois. Para esses, o passe tem um custo-benefício excelente.

Fish não revela quantos já foram vendidos, mas houve 8.500 resgates de ingressos de teleférico no sistema Indy durante a temporada inaugural de 2019-20, número que subiu para 96 mil no ano passado, e ele calcula de 300 a 400 mil para 2021-22.

O crescimento se deve, em parte, às restrições impostas pela pandemia, dificultando as viagens e forçando os esquiadores a usufruir as montanhas próximas de casa.

Em qualquer mercado, os resorts Indy geralmente compõem as menores opções, e as mais simples, nunca chegando às proporções da concorrência mais luxuosa (embora o Powder Mountain, em Utah, estenda-se por quase três hectares e meio). Em Idaho, o Sun Valley (com 18 teleféricos e instalações refinadas) faz parte do sistema Epic, enquanto o Brundage Mountain (com seis teleféricos e a fama de proporcionar uma neve excelente) atende ao Indy.

— Acho que boa parte dos resorts incluídos no Indy Pass tem aquele clima descolado e descontraído de que a gente se lembra dos tempos de criança — comentou Ken Rider, gerente-geral do Brundage.

A menos que seja da região, é provável que você nunca tenha ouvido falar dos três resorts que fazem parte do Indy Pass na Califórnia (China Peak, Mt. Shasta e Snow Valley) ou dos seis em Vermont (incluindo Jay Peak e Magic Mountain), mas é exatamente essa a intenção dos membros, felizes por poderem evitar as filas costumeiras de fim de semana nas atrações mais populares desse estado, como Killington (Ikon) e Stowe (Epic).

O mesmo vale para os seis de Nova York — Catamount, Greek Peak, Snow Ridge, Swain, Titus e West Mountain —, que não chegam nem perto do Hunter (Epic) ou do Windham (Ikon) em número de frequentadores.

Isso porque muita gente que adquire o passe procura mesmo um clima mais íntimo, evitando principalmente as filas e o choque com os preços de tudo, desde o aluguel do equipamento e o estacionamento até a comida, tão comuns nos estabelecimentos mais famosos.

— Eu e meu marido adoramos os resorts Indy porque o que nos interessa é só esquiar. Não queremos saber de acomodações luxuosas nem neve perfeita, e não suportamos as filas longas e as pistas lotadas. É ótimo poder dar uma força às estações menores, onde é possível esquiar a um preço bem mais acessível — escreveu Mary Nitschke, de 32 anos, de Norfolk, Massachusetts, em um e-mail.

Fonte: O Globo

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